Flores de festas viram presentes para idosos
Criado há três meses, projeto Flor Gentil leva alegria a instituições; dálias e goivos de casamento nos Jardins foram transformados em 70 buquês
Arranjos usados para enfeitar grandes eventos e festas da alta
sociedade paulistana agora são reciclados e depois encaminhados para
instituições de idosos. A ideia é da florista Helena Lunardelli, de 37
anos, conhecida no meio pela criatividade e habilidade de fazer belos
arranjos a partir de bases simples, como embalagens descartáveis e vasos
antigos.
Mais do que reciclagem, o projeto, batizado de Flor Gentil, pretende
levar um pouco de alegria e bem-estar a idosos que moram em instituições
da cidade. "Estou montando uma espécie de Doutores da Alegria das
flores", diz Helena. "Quando chegamos com os arranjos, distribuímos um a
um, em mãos." As flores emocionam, aproximam e viram uma desculpa para
uma visita mais longa de Helena e sua equipe, formada por um motorista e
um ajudante.
A ideia nasceu em 2007, mas saiu do papel há três meses. Desde então
Helena vem conquistando colaboradores, em geral floristas e decoradores,
que assinam grandes eventos. "Eles conseguem a autorização dos donos
dessas festas e então repassam as flores para o projeto", conta Helena. O
decorador José Antonio de Castro Bernardes e as floristas Aparecida
Helena Flores e Lucia Milan Daniela Toledo já aderiram. Até agora foram
realizadas dez entregas em instituições públicas e particulares de
idosos. A última foi na sexta-feira, no Recanto Monte Alegre, no
Butantã, zona oeste, que abriga 51 homens e mulheres com mais de 70
anos.
Setecentas hastes de goivos, dálias e rosas saíram de uma festa numa
mansão de uma tradicional família paulistana, realizada nos Jardins,
zona sul, e seguiram para o ateliê da Bothanica, empresa parceira no
projeto. Lá, as flores foram separadas e viraram 70 buquês nas mãos de
oito voluntários (veja quadro) antes de seguir para o Recanto.
"Principalmente os arranjos da cobertura montada no jardim iriam para
o lixo", diz José Antonio de Castro Bernardes, decorador da festa. Num
grande evento, organizado para uma média de 500 convidados, ele calcula
que são usadas de 3 mil a 5 mil flores, que teriam ainda mais cinco dias
de vida, em média.
Presa a uma cadeira de rodas desde que sofreu um derrame, há 15 anos,
Wanda Guerra, de 76 anos, foi uma das mulheres presenteadas com um
buquê coloridíssimo. Ela se mudou para a instituição no início do ano
com o marido, Hector José Guerra, que dois meses depois morreu vítima
das sequelas causadas pelo Alzheimer. "A flor é uma motivação para
continuar minha luta. Ela é uma vitória da natureza", diz Wanda. Os
homens e mesmo funcionários da instituição também foram presenteados.
Doações. "Não é todo mundo que lida bem com a terceira idade. Não são
todos os idosos que contam com a visita constante dos familiares", diz
Helena, que abriu seu projeto a quem quiser participar. Basta avisar o
florista ou o decorador da festa que deseja doar as flores de seu evento
para o Flor Gentil. " Com o tempo, os colaboradores também terão
curiosidade de visitar as instituições."
Valéria França - O Estado de S.Paulo